Ao
observar os diversos protestos pelo Brasil, suas repercussões e,
principalmente, a atuação da “policia” – a qual eu prefiro chamar de
porcos ou cachorros do governo, nada contra esses animais, apenas não
consigo enxergar como gente, aquele que se volta contra a própria classe –
é possível ver diversos pontos em comum independente do local do
protesto.
A começar pela
“cara” dos manifestantes, em sua esmagadora maioria são jovens,
estudantes e é possível dizer até que pertencem a mesma classe social.
Essa “onda” de lutas, quase uma primavera, tem em comum a pauta
transporte público, redução da passagem e melhorias na qualidade, ora,
normalmente quem compõe protestos relacionados à transporte público é
quem anda de ônibus, e é no bolso de quem não tem dinheiro que mais
aperta esses aumentos tarifários – que são absurdos, não pelos 5, 10 ou
20 centavos que aumentam, mas pelo simples fato de se cobrar pelo
direito de ir e vir.
Mas se
todos andam de ônibus, porque apenas a parcela juvenil dos usuários
dessa droga necessária que é o transporte público vão as ruas, onde
estão os trabalhadores que em outros tempos também compunham a linha de
frente dos protestos? A resposta me parece ser obvia e simples, o medo
da demissão por exercer o direito a revolta, não é difícil encontrar
quem diz apoiar o protesto, mas que não pode ir porque está trabalhando.
Outro grande motivo também é o fato de, aparentemente, não sair mais do
bolso do trabalhador o “vale-transporte” – o que é uma grande mentira,
pois é sempre descontada uma porcentagem do salário, o trabalhador,
mesmo que não integralmente, ainda paga pra trabalhar (!) – mas onde
estão os sindicatos, que em tese deveriam fomentar a luta do
trabalhador? Normalmente estão sentados à direita do empresário, tão
cooptados quanto se é possível. Com isso temos apenas uma pequena
parcela de trabalhadores que, com a cara e a coragem, vão aos protestos,
mas que a mídia (que nem preciso dizer de que lado está e o quanto se
esforça pra alterar os fatos em favor daqueles que nos exploram) faz
desaparecer e reduz toda manifestação a meramente “pirraças de crianças
rebeldes”, não dá pra esperar nada diferente de abutres corporativistas
burgueses. É importante lembrar também que o que estou chamando de
trabalhadores são aqueles que trabalham em tempo integral, pois boa
parte dos estudantes, também trabalham a outra metade do período, como
escraviários, bolsistas ou escravo-aprendiz.
Passando
para a repercussão, analisando obviamente não só a mídia burguesa, mas
também outros jornais que não sejam lacaios do Capital/Estado, chamados
de “jornais de esquerda”, e principalmente as redes sociais, onde
podemos ler a opinião das PESSOAS DE FATO, podemos observar 3 tipos
opiniões: os fascistóides reprodutores do que dizem os jornais
burgueses, dizendo que as manifestações não passam de badernas, que os
porcos deveriam atirar pra matar e suspirando de saudades da época que a
ditadura não era velada como é hoje; os que apóiam e dizem que “tem
quebrar tudo mesmo”, “só resolve botando fogo em tudo”, mas que nunca
aparecem nem ao menos pra gritar; e os acreditam (ou dizem que
acreditam) que o protesto é válido mas que (sempre, e independente da
forma do protesto) “existem outras maneiras de protestar sem atrapalhar
ou vandalizar”, só que nunca nem ao menos dão sequer ideias que não
sejam risíveis, não dá pra levar a sério que realmente acredita que
abaixo-assinado on-line vai mudar alguma coisa (quanto a esse ponto o
jornal Carta Capital já publicou um excelente artigo), vamos direto ao ponto sobre o “vandalismo então”.
A começar com a origem da palavra “vandalus”, era
uma tribo “bárbara” que não se sujeitou a dominação do Império Romano e
que atacavam os dominadores. Se a palavra não tivesse sido distorcida
ao longo dos anos teria muito orgulho em ser chamado de vândalo, li
certa vez uma pixação que dizia “Vandalismo é o termo pejorativo para
resistência do povo vândalo contra a ordem do Império Romano”
Não
consigo entender como que uma vidraça, uma loja, um ônibus ou uma
viatura quebrada pode ser mais violento do que bombas de efeito moral,
gás lacrimogêneo, balas de borracha, chutes e golpes de cassete. Na
verdade nem se todos os manifestantes quisessem realmente tomar uma
postura verdadeiramente ofensiva, conseguiriam se comparar a violência
cometida pela desigualdade social. A catraca do ônibus é muito mais
violenta do que um ônibus em chamas.
Não
estou dizendo que a postura pacifista deve ser abandonada de vez assim
de uma hora pra outra, apenas acredito que estamos achando muito
tranquila a truculência dos porcos para “manter a ordem” (burguesa) e
nos alarmando demais com a simples resposta a toda violência burguesa
que, talvez por já estarmos acostumados, ignoramos
Diante disso apenas cito um trecho de Urgência das Ruas:
"Nenhum político e nenhum grande banqueiro ficará impressionado com 500 milmanifestantes pacíficos, uma vez que não haja dúvida de que eles irão permanecernão-violentos todo o tempo. Somente a possibilidade de radicalização torna ummovimento ameaçador e por conseqüência forte". (Ned Ludd)
Como
bem define Weber, “o Estado é o detentor do monopólio do uso da
violência”, quanto um manifestante revida as bombas e tiros com paus,
pedras e (ainda não no caso do Brasil) molotovs, ele está apenas tirando
esse monopólio das mãos do Estado e mostrando que quem deve deter o
poder é o Povo. Isso pode ser claramente visto nos protesto contra a
crise europeia em países como França, Espanha e Grécia – protestos esses
que aqui no Brasil são vistos com olhos de inveja seguidos de
comentários como “La na Europa o povo é organizado, vai todo mundo pra
rua”, mas muitas vezes quem diz isso é o mesmo que chama os protestos
daqui de baderna.
Por fim,
temos a atuação dos cachorros do governo, o show de horrores se repete
de forma tão igual em todo o Brasil que muitas vezes chega a ser
impossível saber de qual estado é o vídeo apenas olhando pra atuação dos
porcos, é praticamente unânime a tática usada, um pelotão da tropa de
choque vem de frente com uma parede de escudos com porcos atirando pelos
lados da barreira, eles evitam ao máximo chegar perto dos manifestantes
enquanto ainda não conseguiram dispersar a massa, por isso lançam
bombas de gás e efeito moral quanto estão a 20 metros mais ou menos,
corriqueiramente aparecem um ou dois manifestantes chutando as bombas de
volta, mas raramente dão conta da quantidade de bombas que são jogadas,
não tem jeito, é praticamente impossível querer competir com porcos de
munição praticamente infinitas e mascaras que cortam por completo os
efeitos do gás – mas a tática de chutar a bomba de volta e, quando se
está de luva grossa pegar com a mão e lançar de volta, é excelente
porque além de dificultar a visão dos porcos, afasta o gás de perto dos
manifestantes. Vendo vídeos de protestos pelo mundo pude observar que os
cachorros brasileiros são um dos melhores em dispersão, provavelmente
pelo fato de não haver contato físico entre eles e os manifestantes,
apenas quando estão em maior número, e também que normalmente a massa de
manifestantes corre para longe da policia e a favor do vento, o que faz
com que o gás surta ainda mais efeito, os porcos jamais atirarão bombas
de efeito moral e gás lacrimogêneo se estiverem muito perto dos alvos,
neste caso usam no máximo os cassetetes e os tiros de borracha,
lembro-me de uma cena lindíssima de um protesto no período da ditadura
militar chilena, ou um protesto em Oaxaca, em que varias mães fizeram um
cordão humano e marcharam em direção aos porcos fazendo-os recuarem
(não antes de distribuir alguns tiros, é claro, mas recuaram)
Outro
ponto importante também que tenho percebido é a ausência de escudos de
proteção e bandeiras nas linhas de frente dos protestos, elas podem ser
muito úteis no enfrentamento (obviamente não me refiro a bandeiras
partidárias), principalmente no caso de confronto físico elas podem ser
usadas para empurrar o pelotão de porcos.
A
truculência dos porcos brasileiros, em minha opinião, só perde para os
porcos do Oriente Médio, mas lá os protestos são verdadeiras guerras
civis, e o fundamentalismo islâmico não perde em nada para as ditaduras
abertas que tivemos, entretanto a adesão aos protestos aqui realmente
parece ser bem menor, mas não tanto quanto nos é mostrado (como se lá
todo mundo fosse politicamente consciente e todo mundo protestasse, não é
bem assim, um dos fatores de massificação dos protestos lá é a
facilidade de locomoção e o tamanho reduzido dos países).
Estamos passando por um excelente período de lutas pelo Brasil, e ainda podemos melhorar muito...
E ano que vem tem a Copa!
Um comentário:
Caro Colega, Vejo esse texto como perfeita justificativa para o movimento passe-livre, seria justo levá-lo a mais pessoas possível, já que nossos meios de comunicação de massa manipulam os fatos e distorcem induzindo (ou pelo menos tentando)a opinião pública a olhar as manifestações como baderna e vandalismo. Vou postar na íntegra esse texto em meu blog. Seria correto eu pedir a autorização para você, mas as palavras estão livres e não pertencem a ninguém, e é necessário levar ao olhos e ouvido de mais pessoas essas idéias (mas o crédito e a origem do texto vão junto). Ótimo texto, louváveis motivos de luta e "seguimos em frente"!
Postar um comentário